Estudo pioneiro do LPF permite identificação de faqueado de duas espécies nativas em risco de extinção e três similares
- Publicado: Terça, 16 de Março de 2021, 10h18
- Última atualização em Terça, 16 de Março de 2021, 10h18
O uso da tecnologia NIRS associado à quimiometria é capaz de identificar espécies florestais muito confundidas no comércio pela similaridade de seus caracteres gerais
Por: Serviço Florestal Brasileiro
Estudo pioneiro de pesquisadores do Laboratório de Produtos Florestais (LPF), vinculado ao Serviço Florestal Brasileiro (SFB/Mapa), e do Laboratório de Automação, Quimiometria e Química Ambiental da Universidade de Brasília (AQQUA /UnB) permite a identificação de faqueado de cinco espécies florestais frequentemente comercializadas como sendo mogno. A tecnologia usada na pesquisa envolve espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS) associado à quimiometria.
Ao todo, foram estudados faqueados das espécies florestais mogno (Swetenia macrophylla K), andiroba (Carapa guianensis Aubl.), cedro (Cedrela odorata L.), curupixá (Micropholis venulosa Pierre) e jatobá (Hymenea coubaril L.) Todas elas são similares em caracteres como a cor e a textura.
O processo de laminação pode gerar o faqueado e o laminado. No faqueado, uma tora fixada em forma de bloco ou pranchão é cortada por uma faca industrial que fatia continuamente toda a superfície, retirando lâminas delgadas com espessura variando entre 0,6 a 1,0 mm. Já no laminado, a tora é fixada com garras em um torno laminador ou desenrolador, que gira ao encontro de uma faca industrial, cortando lâminas de espessura entre 1,2 a 4,0 mm. A espessura deste tipo de corte dificulta a identificação por meio dos caracteres anatômicos, método mais utilizado na prática de identificação em campo.
Tanto o faqueado como o laminado são produtos comercializados e amplamente utilizados para diversos fins, principalmente em movelaria. O uso mais comum é como revestimento de produtos moveleiros, fabricados com madeiras menos competitivas comercialmente, por lâminas de espécies com mais atrativos visuais.
Pioneirismo
O artigo “Identificação de faqueado de mogno usando dispositivo portátil de espectroscopia de infravermelho próximo e análise multivariada de dados” foi publicado na edição de fevereiro da Revista da Associação Internacional de Anatomistas de Madeira IAWA Journal (IAWA, da sigla em inglês). A publicação reúne pesquisas dos mais renomados estudiosos com o objetivo de difundir o avanço do conhecimento da anatomia da madeira em todos os seus aspectos.
A pesquisadora do LPF/SFB, Tereza C. M. Pastore, que é uma das autoras do estudo, informa que não há na literatura científica atual um método instrumental destinado a fazer a identificação de laminados que possa ser comparado com o método NIRS.
“O fato de trabalharmos com um aparelho portátil permite fazer uma análise prévia sobre a identidade da espécie florestal que originou o laminado. Se for necessário, a amostra é enviada ao Laboratório para confirmação. Além disso, a tecnologia NIRS é bastante amigável, dispensando horas e horas de treino dos agentes “ambientais”, afirma Tereza Pastore.
O uso da técnica elimina as dificuldades de identificação anatômica da madeira em forma de lâminas, uma vez que o processo de produção desse artefato acarreta a perda de vários caracteres. A identificação convencional por anatomia da madeira das espécies florestais que deram origem aos produtos recobertos por laminados e faqueados é um processo que exige muita experiência e pode ficar restrita apenas à identificação ao nível de gênero. Nos laminados em geral, a superfície transversal é muito fina. Dessa forma, dependendo das características anatômicas da madeira e, especialmente, das dimensões das células não é possível realizar essa identificação. Normalmente, uma das três direções usadas para observar os caracteres da madeira é quase totalmente eliminada.
Identificação de origem
Outro aspecto importante que a pesquisadora ressaltou é o fato da madeira estar em forma de laminado industrializado não a isenta de ser de origem legal ou ilegal. A razão é que os laminados originados de madeira ilegal também são considerados de origem ilegal. Um exemplo prático do estudo é a espécie utilizada no estudo: mogno. Essa madeira está na lista oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção. De acordo com a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES, da sigla em inglês), os organismos internacionais de proteção proíbem ou restringem a sua comercialização pelo mundo, a não ser que seja proveniente de exploração autorizada por organismos ambientais locais do país como o IBAMA.
Assim, por meio da tecnologia, as lâminas apreendidas sem a respectiva documentação legal de extração podem ser facilmente identificadas quanto ao gênero e espécie. O estudo mostra resultados extremamente promissores por representar uma metodologia alternativa ao método convencional para a identificação de produtos de madeira amplamente comercializados, internamente no Brasil como externamente.
O Laboratório de Produtos Florestais é um departamento do Serviço Florestal Brasileiro que atua na área de tecnologia de madeira e outros produtos florestais, gerando, difundindo e transferindo conhecimento para contribuir com o desenvolvimento sustentável no setor florestal.
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Fonte: SFB