Projeto Paisagens Rurais vai apoiar 4 mil produtores do Cerrado na recuperação ambiental produtiva
- Publicado: Terça, 09 de Abril de 2019, 14h55
- Última atualização em Terça, 09 de Abril de 2019, 14h58
Por: Juliana Miura (Embrapa Cerrados)
Lançamento do programa Paisagens Rurais
O Projeto Paisagens Rurais foi lançado na última quarta-feira, 3 de abril, em Brasília. O acordo de cooperação técnica, assinado pela ministra da Agricultura, Teresa Cristina, e o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, prevê o investimento de US$ 21 milhões entre 2018 e 2023 e tem como foco, além da recuperação ambiental, incentivar a produção agropecuária sustentável no bioma Cerrado.
Durante pelo menos dois anos 4 mil propriedades rurais receberão capacitação e assistência técnica e gerencial, terão acesso a estratégias de manejo desenvolvidas pela Embrapa - que proporcionam condições para a recomposição das áreas de preservação permanente (APP), de reserva legal (ARL) e de uso restrito (AUR) das propriedades rurais, previstas na legislação -, e a tecnologias que visam principalmente a redução da emissão de carbono nas atividades rurais. Isso auxiliará os produtores a se adequarem às exigências da legislação de proteção da vegetação nativa, conhecida como novo Código Florestal.
As propriedades estão localizadas em dez bacias hidrográficas em oito estados brasileiros – Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Piauí, São Paulo, Tocantins – e o Distrito Federal. A iniciativa é uma ação conjunta desenvolvida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); Embrapa; Serviço Florestal Brasileiro (SFB); Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ); Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); com apoio do Banco Mundial.
A Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) será responsável por coordenar a definição das tecnologias que serão levadas às propriedades e, juntamente com o Senar, pela capacitação dos extensionistas rurais que atuarão no projeto. A Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP) participará do monitoramento das áreas atendidas junto com o Inpe.
Impactos ambientais e econômicos
A restauração ambiental e promoção de práticas agrícolas sustentáveis minimizam os efeitos das mudanças climáticas e podem trazer como resultado aumento da produtividade e, consequentemente, da renda dos que vivem no campo, acredita o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins. Ele lembra que hoje, no Brasil, apenas 10% dos produtores detêm 80% da renda proveniente da atividade rural. “Temos uma expectativa muito grande com esse projeto. Queremos mudar o perfil dos produtores do Brasil. Queremos que os pequenos se transformem em médios produtores”, explica Martins. Além disso, destaca que o projeto proporcionará mudanças positivas para a conservação da paisagem natural das bacias hidrográficas do Cerrado.
Para o embaixador da Alemanha, trata-se de um projeto que representa importante passo para o desenvolvimento do Cerrado: “A cooperação técnica com o Brasil avança para a recuperação de áreas degradadas, ação importante para que o País cumpra a meta acordada em Paris, em 2015, e seja atuante no combate às mudanças climáticas”.
A EMbaixada já havia atuado na implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades brasileiras, que possibilitou a sistematização de informações ambientais de mais de 500 milhões de hectares: "uma área maio que toda a Alemanha, talvez até maior que a Europa", brinca Witschel, ao fazer referência à grandeza da conquista alcançada recentemente. Ele ressalta que a agricultura moderna não pode ser inimiga do meio ambiente e ressalta que ainda a importância da participação da Embrapa com a oferta de tecnologias produtivas e conservacionistas que levem ao alcance de uma abordagem integrada na conservação do Cerrado, que pode servir de exemplo para outros contextos e países, dentro da discussão das questões climáticas.
No evento, a ministra da Agricultura lembrou que o produtor rural sempre preservou o meio ambiente, mas agora poderá preservar mais, com base em informações e conhecimentos. “O Cerrado é o bioma mais produtivo do Brasil, de onde vêm grande parte da riqueza e dos alimentos que ofertamos ao mundo, além de ser um grande reservatório mundial de água. Cuidar da nossa água, do nosso solo e dar condições para que o produtor rural faça isso é fundamental”, explica Teresa Cristina sobre a escolha do bioma para iniciar o projeto. Segundo o diretor da GIZ, a experiência adquirida no Cerrado pode ampliar a inciativa para os outros biomas do País.
Operação e resultados
O pesquisador Felipe Ribeiro, participante do projeto, explica que o objetivo é melhorar o uso da terra nas áreas naturais e de pecuária, que correspondem no bioma Cerrados, respectivamente, a 54% e 30% do território.
Hoje, 80% das pastagens do Cerrado estão degradadas ou em degradação, o que corresponde a 165 milhões de hectares. A lotação dessas áreas é de uma unidade animal por hectare. Esse número pode chegar a sete. Se simplesmente conseguirmos dobrar essa lotação para duas unidades animais, aproximadamente 74 milhões de hectares estarão livres para emprego em outras atividades, como explica o pesquisador. Por parte da pesquisa científica, para o desenvolvimento do projeto, foi necessário superar alguns desafios, como definir as principais espécies nativas aptas a serem usadas na recuperação ambiental, conhecer suas características e a época de coleta de suas sementes, além de definir um protocolo para produção de mudas. Na recuperação ambiental, o grupo terá o apoio da ferrramenta WebAmbiente, um sistema de informação que contém o maior banco de dados brasileiro sobre espécies vegetais nativas e estratégias para recomposição ambiental. Os agentes selecionados ainda terão duas fases de treinamento presencial e a partir daí as tecnologias serão levadas às propriedades rurais.
O chefe de Transferência de Tecnologias da Embrapa Cerrados, José Humberto Xavier, enfatiza a importância do projeto para a região: “O projeto Paisagens Rurais é uma ferramenta estratégia que vai apoiar a adoção de práticas sustentáveis e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida no meio rural.
Para maiores informações acesse: Embrapa
Fonte: Embrapa
Foto: Juliana Miura